Marina Tzvietáieva
Poema do Fim
Como a pedra afia a faca,
Como ele desliza a serragem ao varrer,
Assim, a pele aveludada
De súbito, entre os dedos. Úmida.
Oh dupla coragem, sequidão –
Dos homens, onde está você,
Se em minhas mão há lágrimas
E não chuva?
A água é da fortuna
O que mais poderia querer?
Se teus olhos são diamantes
Que se vertem em minhas palmas,
Já não perco
Nada. Fim do fim.
Carícias, abraços
– Eu acariciava tua face.
Assim somos, orgulhosos
E polacas – Marina -,
Quando chove em minhas mãos
Olhos de águia:
Você chora? Meu amor,
Meu tudo: me perdoe.
Pedras de sal
Caem em minhas mãos.
Planto de homem, veia,
Na cabeça recostada.
Gritos. Outra te devolverá
A vergonha que te fiz deixar.
Somos dois peixes
Dos meus – meu – seu – meu mar
Duas conchas mortas
Lábio contra lábio.
Todas as lágrimas.
sabor
Um oráculo
– O que acontecerá
quando
Despertares?
*
Encontro
Vou chegar tarde ao encontro marcado,
cabelos já grisalhos. Sim, suponho
ter-me agarrado à primavera, enquanto
via você subir de sonho em sonho.
Vou carregar esse amargo – por largo
tempo e muitos lugares, de penedos
a praças (como Ofélia – sem lámurias)
por corpos e almas – e sem medos!
A mim, digo que viva; à terra, gire
com sangue no bosque e sangue corrente,
mesmo que o rosto de Ofélia me espie
por entre as relvas de cada corrente,
e, amorosa sedenta, encha a boca
de lodo – oh, haste de luz no metal!
Não chega este amor à altura do seu
amor … Então, enterre-me no céu!
( Marina Tzvietáieva, tradução de Décio Pignatari )
*
À Vida
Não roubarás minha cor
Vermelha, de rio que estua.
Sou recusa: és caçador.
Persegues: eu sou a fuga.
Não dou minha alma cativa!
Colhido em pleno disparo,
Curva o pescoço o cabelo
Árabe — E abre a veia da vida.
( Marina Tzvietáieva, tradução de Haroldo de Campos )
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