O diálogo entre nossas mãos – Leo da Lice
minha mão. sua.
aproximação fugaz e inevitável.
minha mão: sua.
a ti me entrego, nua e inesgotável
e te cravo as unhas.
minha mão sua.
( Leo da Lice )
*
Findo mundo
findo mundo:
finjo quieto,
falo mudo.
fim do mundo:
homens fingindo orgasmo.
vil,
findo mundos –
finjo muito,
calo mudo.
áspero.
ou liso.
findo muito.
somos cruéis, absurdos.
finjo imundo,
forjo mudo
o fim do mundo.
nosso mundo (meu e seu).
sem dedicatórias,
sorrisos assim,
flerte.
findo tudo, não mais precisaremos fingir.
findo o mundo, nasceremos.
com piedade que dói em nós
piedade gratuita, terrível.
(todos os pensamentos me levam a você,
o que fez você hoje?)
forjo um poema;
sai frígido e frágil.
o relógio me avisa:
01:58
01:59
nenhuma palavra será necessária às 02:00.
então calarei.
mudo.
tudo.
fingimos juntos, em total harmonia
às duas horas
da manhã.
( Leo da Lice )
*
Essa dor
O desespero e a incompreensão me deixaram.
Assim como todos,
me deixaram.
(Ou fui eu quem os deixou?)
O que restou?
Uma tristeza calma.
É triste, sim.
Dói, sim.
Mas dói de modo sereno,
quieto.
Pela tranquilidade da tristeza, sei: será duradoura.
E quase sinto seu afago.
(Quase…)
Tristeza irremediável,
insubstituível,
tristeza límpida.
Mais digna que o ódio.
Mais pura que o amor.
Mais simples que a felicidade simples.
Dor que me acompanha por todo o caminho até em casa.
Se afasta do trânsito junto comigo, penetra na noite fria e clara,
dobra a esquina ao meu lado e sobe a ladeira admirando as casas.
Num relance, penso que a presença da dor é a de um amigo
e quando vou dizer “que casa linda, não?”, percebo que a dor
não tem ouvidos. E me calo.
Quase esboço um sorriso.
(Quase…)
E entro em casa pensando,
acho que vou tomar um longo
banho quente
hoje.
( Leo da Lice )
Blog do autor: Nos bastidores da utopia
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