O Humor – José Anísio Ferreira
Quem sorri da vida,
Sorri da própria experiência.
Mesmo que, incompreendida,
Ela faz a sua exigência.
Brincando dentro do homem está o humor!
Ele é a causa de toda esperança:
“Na saúde, ou na doença, na alegria, ou na dor”;
Ele é o bem sorrindo como criança.
O humor, no santo, causa preocupação.
Há quem o diga, São Lourenço e seus algozes.
Executor, condenado e fogueira tinham uma ocupação:
Cortar, de vez, os sorrisos ferozes!
No curso da história morreu gente na grelha.
Condenando o humor e a sua importância
Nas criaturas, do criador, pequenas centelhas.
Pobres humanos! Última instância.
*
O Clamor Verde
As árvores se amotinaram
O clamor verde foi decretado
Hoje, acontece o que elas ensaiaram…
Por muitos anos passados.
No peio de cada uma delas
Está a dor de muitos corações
Muitas noites em vão, em velas,
Somente o tempo e as quatro estações.
Elas jamais se calarão
Com seus braços erguidos
Parece estar em constate oração
Sem revoltar-se, sem gemidos.
As vejo pedir ajuda aos céus
De lá, talvez, possa vir um consolo.
Contrariamente, no banco dos réus,
Ouve-se, apenas, um verde choro.
*
Paisagem
Paisagem humana e bela
Concretos tijolos e casas
Em voltas do quadro da tela
Meus olhos se abrem e criam asas
Observo a unidade e os aspectos
Pelos fios, vão-se os choques-elétricos…
Estes são apenas detalhes.
Mistificando a cultura, sem xale.
Dou-me conta do movimento
Nas ruas, as pessoas são formigas.
Dou-me a contemplar este passatempo
Observando no coração as intrigas
Os prédios são as árvores, as janelas, folhagens.
Umas verdes, outras amarelas desbotadas.
Em todas há um quê de bonitas feitas miragens
… a cidade desperta, enquanto vejo as pessoas enfileiradas.
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Amante das letras…