Catar Feijão
1.
Catar feijão se limita com escrever:
joga-se os grãos na água do alguidar
e as palavras na folha de papel;
e depois, joga-se fora o que boiar.
Certo, toda palavra boiará no papel,
água congelada, por chumbo seu verbo:
pois para catar esse feijão, soprar nele,
e jogar fora o leve e oco, palha e eco.
2.
Ora, nesse catar feijão entra um risco:
o de que entre os grãos pesados entre
um grão qualquer, pedra ou indigesto,
um grão imastigável, de quebrar dente.
Certo não, quando ao catar palavras:
a pedra dá à frase seu grão mais vivo:
obstrui a leitura fluviante, flutual,
açula a atenção, isca-a como o risco.
(Seleção de Fabio Rocha)
Leia mais João Cabral de Melo Neto
Gostou do projeto? Contribua aqui
3 respostas
Catar Feijão – João Cabral de Melo Neto: Catar Feijão 1. Catar feijão se limita com escrever… http://t.co/x8moeo38
RT @fabiorochapoeta: Catar Feijão – João Cabral de Melo Neto: Catar Feijão 1. Catar feijão se limita com escrever… http://t.co/x8moeo38
A pedra que interroompe a leitura é certamente a pedra filosofal.